por Júlio Prado
Entre cliques e colheitas: o que realmente influencia o Brasil?
O papel da comunicação e como a valorização do agro
O episódio recente envolvendo a influenciadora Virgínia Fonseca e a promoção de apostas online acendeu um debate importante sobre os limites da influência digital. É natural, e até saudável, que a sociedade questione o papel de quem fala para milhões e usa esse alcance para promover promessas de enriquecimento fácil, ainda que potencialmente destrutivas para famílias inteiras. mas é preciso ir além da superfície. O caso da Virgínia não é a origem do problema. É apenas um de seus sintomas. Há décadas, políticos, religiosos e meios de comunicação utilizam o carisma e o poder de persuasão para explorar sentimentos como medo, a fé, o desejo de vencer. A diferença é que, agora, tudo isso acontece em tempo real. Em um mundo conectado, a influência se tornou mais rápida, mais visível e infinitamente mais lucrativa. Tenho me dedicado intensamente à missão de comunicar o agronegócio com responsabilidade e profundidade tanto nas redes sociais quanto em meu programa de televisão no Canal Rural e no Canal do Criador. Faço isso porque acredito que quem gera valor real para o país, quem alimenta, sustenta economias, impulsiona territórios precisa ocupar o protagonismo. E mais: precisa ser compreendido. Durante muito tempo, muitos setores do próprio agro acreditaram que “o resultado fala por si”. Mas não fala mais. Porque, na era da hiperexposição, quem não comunica, silencia. E palco vazio vira vitrine para qualquer um. Não se trata de transformar o agronegócio em entretenimento raso, mas de disputar atenção com inteligência, estratégia e propósito. De mostrar que é possível influenciar com responsabilidade. De inspirar, em vez de apenas impactar. O debate não é sobre julgar ou absolver Virgínia. Nem sobre condenar quem erra. No fim das contas, a influência mais poderosa não é a que provoca um clique impulsivo. É aquela que dita comportamento, estabelece tendências e molda decisões de longo prazo e nesse quesito, Virgínia foi bem-sucedida: construiu um império porque sabe para onde o olhar das pessoas se volta. Agro precisa ditar tendência! O agro, assim como tantos outros setores essenciais para o país, também precisa ditar tendência. Precisa se tornar influente, visível, compreendido e isso só acontece quando nos comunicamos de forma ativa, clara, honesta e estratégica. No fim, não estamos falando apenas de apostas ou lavouras e rebanho, estamos falando de escolhas. De quem escolhemos admirar e do que decidimos valorizar como sociedade.
por Júlio Prado
A tarifa e o espelho: quando o livre comércio cobra contradição
Não vivemos mais em tempos onde a força bruta comercial prevalece sobre a interdependência global
A notícia de que o presidente Donald Trump pretende aplicar tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros desperta, inevitavelmente, uma reflexão profunda sobre o uso de mecanismos tarifários como ferramenta de pressão política e econômica em pleno século XXI. É compreensível que países busquem defender seus interesses estratégicos, mas a aplicação desse tipo de medida soa, no mínimo, controvérsia. Em um cenário global cada vez mais integrado, recorrer ao protecionismo bruto revela não firmeza, mas miopia diplomática, impulsividade e um retrocesso perigoso na lógica das relações internacionais.Não vivemos mais em tempos onde a força bruta comercial prevalece sobre a interdependência global. A imposição de tarifas punitivas, descoladas de acordos multilaterais ou de lógica de mercado, enfraquece a própria credibilidade de quem as impõe. Ainda mais quando parte de uma nação que se apresenta como referência do livre comércio mundial. O discurso liberal, quando confrontado com ações assim, revela-se frágil, oportunista e, acima de tudo, contraditório.
Os Estados Unidos compram do Brasil produtos-chave para o seu funcionamento interno. Quase 65% do suco de laranja consumido no país vem do Brasil. Somos também responsáveis por cerca de 28% do café verde importado pelos americanos. Fornecemos mais de 12% do aço semiacabado utilizado na indústria norte-americana. A lista segue com etanol, celulose, madeira e proteínas animais. Cortar ou encarecer esse fluxo não é apenas penalizar o produtor brasileiro, é desequilibrar cadeias produtivas inteiras nos Estados Unidos, aumentar preços, gerar escassez e instabilidade para consumidores e empresas americanas. Essa interdependência é um fato, não uma teoria. E não se resolve com bravatas. A lógica do mundo real exige equilíbrio, diálogo e visão de longo prazo. O Brasil seria impactado? Sim! Mas é igualmente verdade que nenhum outro país está, hoje, preparado para absorver de forma imediata e em volume semelhante os produtos brasileiros que os EUA compram. Isso exigiria tempo, diplomacia e abertura estratégica de novos mercados e isso, felizmente, está ao alcance de um país que exporta energia limpa, alimentos, biocombustíveis e recursos naturais com liderança global.
Formar blocos comerciais alternativos, fortalecer relações com Ásia, Europa e Oriente Médio e construir uma política externa pragmática e soberana são um dos caminhos. Não se trata de abandonar os EUA, mas de deixar claro que o Brasil não pode e não deve depender de um único parceiro. Precisamos agir com a inteligência de quem compreende seu valor no mundo e tem clareza de que ser o “celeiro do planeta” exige muito mais que produzir: exige negociar com dignidade e visão estratégica.
O mundo precisa do Brasil. Mas o Brasil também precisa do mundo, de forma justa, simétrica e madura. O desenvolvimento econômico não pode mais ser conduzido com base em retaliações e medidas unilaterais. Cooperação é mais que um ideal, é uma exigência do nosso tempo.Não se trata de utopia. Trata-se de consciência geopolítica. De compreender que as grandes nações não se afirmam por isolamento, e sim, por liderança compartilhada. De entender que o segundo maior mercado comprador do mundo, os Estados Unidos, já deveriam ter superado esse estágio. E que o Brasil, país-chave para a segurança alimentar e ambiental do planeta, não pode cometer o erro de só refletir sobre soberania quando ela estiver sob ameaça.
Se quisermos um lugar de respeito nesse novo ambiente global de mercados, precisamos saber dizer, com clareza e elegância: o mundo mudou. E nós também.
